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Um milhão de filhotes de tartaruga da Amazônia coletados em parque estadual serão soltos nas baías do rio Guaporé [veja vídeos]

Um milhão de filhotes de tartaruga da Amazônia coletados em parque estadual serão soltos nas baías do rio Guaporé [veja vídeos]

Às vésperas do maior fenômeno de reprodução de quelônios da América do Sul, o Governo de Rondônia trabalha na praia de Pimenteiras do Oeste acompanhado pela Marinha Boliviana

 

PIMENTEIRAS DO OESTE –  Aproximadamente um milhão de filhotes de  tartarugas da Amazônia serão soltos nas baías do rio Guaporé, no dia 11 de dezembro próximo, dentro da Unidade de Conservação de Proteção Integral do Parque Estadual de Corumbiara em Rondônia (Amazônia Ocidental Brasileira). O cálculo foi feito esta semana pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e pelo gestor do Parque Estadual de Corumbiara, Raimundo Dimas.

O parque fronteiriço à Bolívia, abrange áreas dos municípios de Alto Alegre dos Parecis, Cerejeiras e Pimenteiras do Oeste.

O povoamento do rio e de seus afluentes com quelônios neste período do ano é considerado o maior fenômeno de reprodução, na América do Sul, das espécies Podocnemis expansa, a tartaruga, e Podocnemis unifilis, o tracajá. Lá estarão: o secretário estadual Marcílio Lopes Leite e o coordenador das Unidades de Conservação (CUC), Fábio França.

“Aqui, tracajá é mato”, comenta um dos coletores, em vídeo.

O Projeto Quelônios da Amazônia tem 12 anos e a operação de coleta de filhotes está ocorrendo desde a semana passada na praia de Pimenteiras do Oeste, a 792 quilômetros de Porto Velho, dentro do Parque Estadual de Corumbiara, a maior Unidade de Conservação do estado e única a possuir três biomas distintos: Cerrado, Amazônico e Pantaneiro.

Em 1976, o ex-secretário territorial de agricultura, Edgar Cordeiro, iniciava a construção dos primeiros berçários no município de Costa Marques, durante o governo do coronel Humberto da Silva Guedes. Os quelônios já faziam parte da pauta ambiental daquele período, fato reconhecido pelo ambientalista Camilo Viana, da Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (Sopren). Ele faleceu aos 93 anos, em 2019, de complicações renais.

O trabalho atual é de responsabilidade da coordenadoria de Unidades de Conservação da Sedam, tendo à frente a equipe formada pelo gestor do Parque, Raimundo Lima; a geóloga Caroline de Souza Reis; o biólogo Diego Rudieli Acheffer,  e a gestora da CUC do Cautário, Thayla Araújo. Todos apoiados por moradores quilombolas do entorno do parque, por oficiais e soldados da Marinha Boliviana.

Em operações anteriores, a Sedam apoiou a organização não-governamental Ecovale, que trabalha enfrentando predadores nas praias de Costa Marques e São Francisco do Guaporé. A Ecovale tem diversos parceiros.

O atual recorde no povoamento do rio é de 2019, informou o presidente da Ecovale, Zeca Lula. Naquele ano foram soltos quatro milhões de quelônios em Costa Marques e São Francisco do Guaporé. Conforme ele explicou em 2020, o número de soltura no ano passado só não foi maior porque o rio subiu muito rápido e não deu tempo de retirar em torno de dois milhões de filhotes, que morreram dentro das covas.

Coleta deste fim de semana na praia de Pimenteiras: dos ninhos às águas, em dezembro próximo

Apoio boliviano, imprescindível

Segundo o gestor do parque estadual, Raimundo Dimas , o Projeto Quelônios da Amazônia acontece desde 2009, com o objetivo de garantir a reposição dos estoques naturais. A gestão do projeto é do programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa)*.

Parceiros do projeto, os oficiais Jawer Edrill Mejía Guzmán, comandante da Base Naval Ramón Darío Gutiérrez, e o suboficial David Huanca Huayllani acompanham diariamente a operação desde o início. Alunos de escolas da Alcadia de Remanso (Vaca Díez) também.

A equipe da Sedam, auxiliada por moradores da região, lota o barco com filhotes

No ano passado, o secretário estadual Marcílio Lopes Leite reivindicou ao Ministério do Meio Ambiente a inclusão das praias de Costa Marques dentro da área preservada do Parque Estadual Serra dos Reis, esperando que assim possa assegurar maior reprodução da eclosão de ovos e da coleta de filhotes.

190 áreas de desova protegidas

Em toda Amazônia é possível encontrar aproximadamente 16 espécies de quelônios, todas dependentes de conservação. O Projeto Quelônios da Amazônia protege mais de 190 áreas de desova, demarcando os ninhos e coletando os filhotes, assim que eclodem, explica a equipe da Sedam.

Desta maneira, eles ficam reclusos entre cinco e dez dias, para que percam seu odor característicos, o que atrai predadores: peixes, jacarés, urubus, gaivotas, entre outros.

As três etapas do projeto são: identificação e monitoramento das áreas de desova; coleta de filhotes; e incubação em tanques-rede pelo período de até 15 dias.

 Veja vídeos mostrado a coleta dos quelônios

* Arpa é um programa do Governo Federal, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, gerenciado financeiramente pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade e financiado com recursos do Global Environment Facility (GEF), via Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW),  WWF-Brasil, e Fundo Amazônia, via BNDESFundação Gordon e Betty Moore e grupo privado Anglo American.

É o maior programa de conservação de florestas tropicais do planeta e o mais expressivo ligado à temática das Unidades de Conservação no Brasil. Atualmente encontra-se na terceira fase, iniciada em 2014.

Conheça a Base Naval Ramón Darío Gutiérrez, na Bolívia
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ESPÉCIES AMEAÇADAS POR TRAFICANTES DE ANIMAIS

► Quelônios são os representantes da Ordem Testudines (classe Reptilia), que inclui as tartarugas, os cágados e os jabutis. Possuem quatro patas e o corpo é protegido por uma carapaça (córnea ou coriácea). São onívoros e ocupam vários tipos de ambientes, incluindo o marinho e continental (água doce e terrestre).

► Possuem importante significado sociocultural para muitas regiões do Brasil, especialmente para as comunidades indígenas e tradicionais. [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio]

O tráfico de carne e ovos dessa espécie é estimulado pelo alto valor — uma tartaruga adulta pode custar de R$ 800 a R$ 1 mil no mercado ilegal, conforme cálculos da Polícia Federal. A espécie é dispersora de sementes, ajuda na limpeza dos rios e é fonte de alimento para os ribeirinhos. Por isso, sua extinção pode causar diversos problemas para o ecossistema.

MONTEZUMA CRUZ
Com fotos e vídeos de Jawer Mejía Guzmán e Thayla Araújo. Base Naval (YouTube).

 

EXPRESSÃO RONDÔNIA

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