A Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente, da Mulher e do Idoso da Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero) recebeu durante a reunião desta terça-feira (18), duas ativistas dos direitos dos autistas no estado: Heline Braga e Klívia Meireles. “Agradeço as participações da Heline Braga e da Klívia Meireles aqui na nossa comissão. As suas presenças aqui são para nos relatar seus conhecimentos e as bandeiras da causa que vocês levantam tão firmemente no sistema educacional envolvendo o autismo”, comentou a deputada estadual Cláudia de Jesus (PT).
A primeira falar foi a tenente da Polícia Militar, Heline Braga, mãe atípica do pequeno Iuri, de apenas três anos de idade e nível três de suporte, segundo ela. “Sou mãe atípica e agradeço a oportunidade de mais uma vez de falarmos sobre o autismo, uma pauta que as senhoras têm apoiado com tanta força, acolhendo e se prontificando em atender as demandas da nossa comunidade”, disse ela.
A presidente da comissão, deputada Dra. Taíssa (PSC), reforçou o papel do grupo de parlamentares para auxiliar as mães e pais atípicos na luta por mais direitos pelos autistas. “Eu trouxe um plano de ação para o Governo do Estado, onde possamos enfrentar todas essas demandas. Para vocês imaginarem como é nossa situação na minha região, Guajará-Mirim: na primeira reunião que fizemos, tivemos 20 pais. Na segunda foram 90 famílias. São números que não aparecem e as pessoas não têm dimensão”.
Explicações
Heline Braga fez uma rápida contextualização do que é o autismo: “É um transtorno do neurodesenvolvimento, com mais de 80% de caráter genético herdado e 1% com fatores ambientais. E esses fatores dizem respeito aos fatores intrauterinos. A ciência não nos diz que vacina causa autismo nem outras coisas quando se fala nisso. Nós das famílias atípicas sempre trazemos a pegada científica”. Ela também destaca os desafios atuais das famílias atípicas em Rondônia e em outros estados brasileiros.
“Nós passamos por experiências de curandeirismo, quando se fala do transtorno do espectro do autismo, que ainda não tem cura. É tão complexo que não há um marcador biológico para diagnosticar o autismo. Não tem um exame que a gente leva o guri lá e detecta: tem três cruzes de autismo, uma cruz, ou de acordo com essa substância, ele tem ou não. É uma avaliação feita com uma equipe multiprofissional, principalmente nos casos mais sutis”.
A mãe atípica ainda explica que é importante as pessoas conhecerem bem o autismo para evitar diagnósticos errados e que causem impactos na vida daqueles que têm a doença. “Outras pessoas neurodivergentes passaram as vidas trancadas nos quartos, quando não em manicômios, dopadas, acorrentadas, porque a sociedade não quer vê-las. O autismo não é bonito, não é romântico. A história do autista gênio é mito. Então, a gente precisa falar do autismo como ele é: um transtorno complexo, que se não tiver as intervenções específicas, necessárias, com base em evidências científicas, pode se tornar algo doloroso e difícil para aquela família”.
Heline Braga ainda pontuou que as escolas ainda são locais muito perigosos tanto para os autistas quanto para os trabalhadores do setor. “O espaço educacional não é perigoso apenas para a comunidade atípica, mas para os profissionais também. Eles são violentados ao passo de que não são instrumentalizados pelo Estado para lidar com nossa comunidade. Então não há uma briga entre comunidade atípica, professores e comunidade escolar. Há dois nichos que são diuturnamente violados”.
Klívia Meireles ainda expôs as diferenças entre as redes públicas estadual e municipal de Porto Velho em relação ao tratamento que dispõem às crianças e adolescentes atípicos. “Não é porque estou na presença da primeira-dama, que também é deputada estadual, mas a prefeitura [de Porto Velho] já está anos-luz na frente do Governo quanto a essas questões. Inclusive, o Estado pede para reter essas crianças na prefeitura, pois eles ficam desesperados quando essa criança cai na rede estadual. Nossa pauta é cara e estamos falando de orçamento”.
As ativistas também falaram sobre o esforço para fazerem em parceira com o Governo do Estado um “mutirão fecha laudo”, para que as famílias tenham acesso aos direitos mais básicos. “Já tentamos contato com o Estado para que, com a estrutura que o Governo tem, a gente possa sanar essa demanda. Sem o laudo, nós não conseguimos ter acesso a outros direitos. A gente fala de famílias que tem insegurança alimentar. Muitas vezes a mãe é a única cuidadora. E muitas vezes o Benefício de Prestação Continuada (BPC) é a única renda daquela família”, observou Heline Braga.
No final, a deputada Dra. Taíssa sugeriu a criação de uma cartilha com termos específicos da comunidade autista como mediador e cuidador. “As pessoas precisam saber qual a área devida, qual o profissional que vai atender. A gente quer que a sociedade inteira entenda de uma forma geral, qual a orientação mais correta. E daqui esperamos que saia um convite para a Secretaria de Educação, Secretaria de Saúde, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública e todos os deputados para evitar os preconceitos e as falas erradas”.
Texto: Felipe Corona I Secom ALE/RO
Foto: Rafael Oliveira I Secom ALE/RO