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Ambientalistas enfrentam comerciantes, vereadores e até a Prefeitura, para fazer de avenida o maior bosque urbano da Amazônia

Ambientalistas enfrentam comerciantes, vereadores e até a Prefeitura, para fazer de avenida o maior bosque urbano da Amazônia

Voluntários em Rolim Moura, na Zona da Mata, cultivam espécies nobres de árvores ornamentais e frutíferas. De 2020 para cá foram plantadas 790 mudas de árvores em escolas e nos espaços públicos da longa avenida, com apenas 10% de perdas. Mudas especiais que não se adaptam são repostas

AMBIENTALISTAS ENFRENTAM COMERCIANTES, VEREADORES E ATÉ A PREFEITURA, PARA FAZER DE AVENIDA O MAIOR BOSQUE URBANO DA AMAZÔNIA OCIDENTAL

Montezuma Cruz*

ROLIM DE MOURA – Se a população apoiar, a mais larga avenida da Amazônia Ocidental Brasileira colocará Rolim de Moura (Zona da Mata de Rondônia) entre os mais lindos cartões postais do estado. Quatro décadas atrás, esse município a 402 quilômetros de Porto Velho devastava suas reservas de mogno, castanheira, cedro, angelim, peroba e outras árvores nobres, razão por que alguns madeireiros passaram a fazer derrubadas em terras indígenas.

Onda calórica que se repetirá de agora em diante poderá ser atenuada com a reposição de árvores nobres dentro de cidades carentes de bosques e parques. Varadouro conheceu uma delas esta semana:

Não há igual. É preciso aproveitar o momento e fazer acontecer.

Os cem metros de largura e os quatro quilômetros de extensão da Avenida 25 de Agosto – que já chegou a figurar o livro dos recordes como a mais larga ou a segunda avenida mais larga do mundo –  vêm recebendo a cada seis meses mudas de plantas frutíferas e ornamentais.

Com extensão territorial de 1.45 mil Km² e 56,4 mil habitantes, Rolim espera mudar a imagem que a tornaria muito melancólica não fosse a sua florada de ipês amarelo, brancos e amarelos que a tornam agradável todo ano, em junho.

Dentista falecido na semana passada em Rolim de Moura deixa para herdeiros ambientais uma árvore e dois bancos de cimento (Foto Montezuma Cruz)

A cidade foi projetada em meados dos anos 1970 pelo governo do extinto território federal, contando com a participação de profissionais da Universidade de São Paulo e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Rolim tem ótima chance de se tornar mais acolhedora. “O centro estará totalmente florido dentro de oito a dez anos”, prevê o presidente da Aruana Ação Ambiental da Amazônia, Fabiano Gomes.

O desenvolvimento urbano pressupõe também formar áreas verdes. O secretário municipal de meio ambiente e desenvolvimento urbano, professor Carlos Alberto de Lima, acredita nisso.

A secretaria de obras é parceira no roçado. A empresa Águas de Rolim também está sendo cativada a dar as mãos ao projeto.

Um viveiro com cem mil mudas de espécies silvestres e mudas ornamentais já se encontra à disposição da comunidade.

Até agora, voluntários da Aruana plantaram 2.300 mudas de amora, araçá-boi, açaí, brincos de índio, ingazeiras, ipês, flamboyants, jambeiros, jatobá, jequitibás pata de vaca, sibipiruna e oitis.

Na Área de Proteção Permanente a nascente do igarapé Encrenca está protegida. As águas correm por um canal até desaguarem no Rio Anta, a 1,5 km.

Águas preservadas na chamada Praça da Nascente correm limpas para o Rio Anta, a 1,5 quilômetro dali (Fotos Montezuma Cruz)

A Aruana só tem dúvida do crescimento do jatobá e do jequitibá, apropriados a áreas não alagadas.

A entidade não apenas contribui para melhorar a paisagem central como orienta alunos de escolas públicas a zelar pela recomposição de minúscula, porém significativa parte da floresta original. E ainda ensina a conservar nascentes de água.

A Aruana identificou entre as maiores carências o zelo com a poda, depósitos de água e bebedouros para pássaros e passarinhos. Araras e maritacas viviam na praça, mas desapareceram.

“Já vimos eles sedentos e famintos, voarem de um lado a outro da avenida para beber água em postos de combustíveis”, conta Fabiano.

Mesmo plantando com boa vontade e muita disposição, geralmente sob calor de 35 graus ou acima disso, os “aruanas” – como são chamados esses voluntários – ouvem manifestações de descrença e desaforos.

De oito a dez anos Rolim de Moura unirá seus bosques na avenida com cem metros de largura e 4 km de extensão projetada no governo do coronel Humberto Guedes (Montezuma Cruz)

“Pedi apoio a um dos comerciantes, e ele me perguntou: eu vou deixar isso pra quem?” – relata o ambientalista.

Uma grande árvore Fícus quase foi arrancada na esquina com a Frua Jamari. Os “aruanas” lhe abraçaram e fizeram barulho que resultou na conservação. A 50m do local, um comerciante de equipamentos agrícola pretendia arrancar outra Fícus conhecida por “árvore da melancia” – debaixo dela um ambulante vende a fruta.

A cem metros dessas duas árvores crescem buritis, cajueiros, jacarandá azul e oitis. Novos ipês irão florir a partir de 2024.

De 2020 para cá foram plantadas 790 mudas de árvores em escolas e nos espaços públicos da longa avenida, com apenas 10% de perdas. Mudas especiais que não se adaptam são repostas.

A Aruana elegeu como objetivo de seus projetos os elementos: água, ar, fogo e terra. “Água para nos abastecermos; ar para respirarmos bem; o combate às queimadas; e a conservação do solo. Esse mote já foi levado a seis escolas onde houve plantio de árvores e palestras ambientais.

Novos ipês irão florir em 2024, prevê Fabiano Gomes, da Aruana Ambiental (Montezuma Cruz)

“Conscientizar é cada vez mais preciso, porque Rolim foi um dos municípios que mais sofreu a extração de madeira, tanto na forma legal (autorizada pelo Incra nos anos 1970) quanto abusiva e criminosamente” – alerta Fabiano.

“Aquelas derrubadas de 50% da floresta para a formação de lavouras e pastagem abriu muito rapidamente as porteiras para o futuro do concreto em lojas, escritórios, prédios públicos e particulares” – ele lembra.

A mais recente reivindicação da Aruana é no sentido de a prefeitura criar um departamento de parques e jardins especificamente para ser parceiro daqueles que cuidam das árvores plantadas.

Paralelamente, a entidade fotografa e busca demonstrar à Energisa – distribuidora de energia elétrica – a desnecessidade de podar de maneira drástica algumas árvores da avenida e de outras vias da cidade.

“Horrível o que fazem, mesmo em espaços onde não há postes” – queixa-se mostrando um deles perto de uma loja de material de construção.

A empresa informa que se depara com árvores antigas “crescendo acima da fiação dos postes” e se desculpa por ainda não ter investido em modelo que evite o radical arranquio.

Enquanto não sente acontecerem essas melhorias, a Aruana segue quase quixotescamente apelando ao comércio da Avenida 25 de Agosto para que adote uma árvore.

Às 15h de 1º de dezembro de 2023 o repórter caminha a pé com Fabiano e não veem uma só pessoa sob as poucas árvores. O ambientalista aponta a quadra 1 ali próxima apelando: “Ela está pobre, perdeu espécies antigas, daí a razão da campanha de adoção de árvores; o comerciante será dono das novas árvores, um presente para seus filhos e netos.”

Judieira em Rolim de Moura: Energisa e prefeitura podam onde nem fiação existe, mas prometem apoiar o projeto (Montezuma Cruz)

Segundo Fabiano, o resultado parcialmente vem dando certo. Ele exemplifica: “O odontólogo Evilson Rocha, depois de habitar Rolim por quatro décadas, foi um dos primeiros a adotar um oitizeiro, ao lado do qual mandou construir dois bancos de cimento.

Rocha faleceu na semana passada, deixando esse legado aos familiares e à vizinhança que certamente se beneficiarão com a sombra da árvore.

Fabiano acredita que outros empresários adotarão mais árvores e imitarão o dentista.
O prefeito Aldair Júlio Pereira (União Brasil) costuma agora ouvi-lo, da mesma forma como já ouviu vereadores que advogam para comerciantes a derrubada de árvores na avenida.

“Ele está mais sensível, se comprometeu conosco e tem sido confiante no êxito de um projeto que irá agradá-lo, e a todos os que confiam na melhora do meio ambiente nesta cidade a partir de 2024” – comenta o presidente da Aruana.

Os voluntários ambientais querem trabalhar “juntos com a prefeitura” a fim de criar espaços urbanos que proporcionem à população o convívio com a natureza.

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