Frigoríficos trabalham com capacidade total, mas mesmo assim o preço pago ao produtor é baixo
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) formada para investigar possível formação de cartel nos frigoríficos de abate de bovinos em Rondônia ouviu até o início da noite de segunda-feira (4) os diretores do Frigon, de Jaru, João Gonçalves; do Tangará Ltda, de Ji-Paraná, Eduardo de Almeida Ferreira; e do Distriboi, de Cacoal, Pedro Delavi. O representante da JBS S/A, de Porto Velho, será ouvido no próximo dia 11.
O relator da CPI, Lazinho da Fetagro (PT), perguntou praticamente a mesma coisa aos três empresários. Variações em determinadas perguntas ocorreram apenas devido a algumas respostas. Os deputados investigam se donos de frigoríficos combinam de alguma forma os preços pagos ao produtor, e verificam a razão de o preço da arroba baixar na hora da compra do boi, mas não diminuir nas prateleiras dos supermercados e açougues.
O presidente da CPI, Adelino Follador (DEM) explicou que em São Paulo é pago pela arroba do boi R$ 157,00; no Mato Grosso, R$ 136; e na Bahia, R$ 153. Enquanto isso, em Rondônia, o produtor recebe R$ 126,00. O parlamentar acrescentou que existe a denúncia de que os frigoríficos pagam o quanto querem e também abatem no momento e no local em que desejam. Ao produtor, não resta muita escolha, principalmente porque diversas plantas frigoríficas foram fechadas no Estado nos últimos anos, principalmente pelo JBS Friboi.
O primeiro empresário a ser ouvido pelos deputados foi João Gonçalves. Ele explicou que só tem um frigorífico. Lazinho da Fetagro perguntou se ele participa de alguma organização ou sindicato. O empresário respondeu que não. O deputado indagou sobre como é estipulado o preço da carne. O diretor do Frigon disse que a base é a oferta e a procura.
A próxima pergunta do deputado Lazinho foi se João Gonçalves definia o preço pago aos produtores com base em seus concorrentes. O empresário negou. O parlamentar indagou, também, se houve telefonemas ou reuniões entre donos de frigoríficos para baixar o preço da carne. O diretor do Frigon respondeu que no início aconteceram coisas assim, mas agora não.
Diante disso, Lazinho da Fetagro perguntou novamente se houve reuniões de responsáveis por empresas (para discutir o preço pago ao produtor). João Gonçalves disse que não. Ele não soube responder a razão do fechamento de frigoríficos em Rondônia, nem sobre a existência de pressão de grandes conglomerados sobre empresas pequenas para baixar o preço da carne pago ao criador. Disse, no entanto, que seu frigorífico trabalha com capacidade total.
Eduardo de Almeida Ferreira e Pedro Delavi deram respostas semelhantes à de João Gonçalves. Delavi, no entanto, disse que o boi de Rondônia tem uma genética boa, mas apesar disso a carcaça está perdendo qualidade. Assim ele procurou justificar o preço baixo. O empresário assegurou que tem saído gado do Estado por falta de pasto.
A Eduardo de Almeida Ferreira, o deputado Laerte Gomes (PSDB) perguntou se alguma vez houve pedido de pagamento de benefícios por servidores estaduais para concessão de incentivos fiscais. A resposta foi negativa. Em seguida, Laerte indagou se houve doação para campanha eleitoral de algum membro da comissão. O empresário disse que não.
O deputado José Lebrão (PMDB) considerou as respostas satisfatórias, principalmente porque os empresários disseram que os abates estão acontecendo na capacidade total. Para o parlamentar, isso afasta qualquer alegação de o preço pago é baixo porque os negócios não estão bem em Rondônia.
Por Nilton Salina
Foto José Hilde Decom ALE