Pesquisadores descobrem que crianças com sintomas como alucinações e paranoia têm múltiplas alterações no genoma, associadas a distúrbios psicóticos e do eurodesenvolvimento. E sugerem um teste para identificar a condição precocemente
Paloma Oliveto /correiobraziliense.com.br/
(crédito: Bluizh/PxHere/Divulgação )
Amigos e inimigos imaginários fazem parte do repertório das crianças. Porém, em alguns casos, as visões podem ser sintomas da psicose de início precoce, que afeta pessoas com menos de 18 anos. Nem sempre fácil de ser reconhecida, a condição mental tem bases genéticas, segundo um estudo publicado hoje no American Journal of Psychiatry. Os autores, do Hospital Infantil de Boston, afirmam que a descoberta poderá ajudar no diagnóstico e no tratamento do problema.
Os pesquisadores fizeram testes genéticos em 137 crianças e adolescentes com sintomas psicóticos, atendidos no hospital norte-americano. Setenta por cento dos pacientes começaram a ter surtos psicóticos antes dos 13 anos, sendo que 20% do total atenderam todos os critérios médicos para o diagnóstico de esquizofrenia. Os participantes do estudo foram submetidos a testes sistemáticos para duplicações e exclusões de DNA, chamados de variações de número de cópias (CNVs). Segundo os autores do artigo, essas alterações estão “fortemente associadas a distúrbios psicóticos e do neurodesenvolvimento”.
A análise genética identificou 47 locais do DNA previamente associados a distúrbios psicóticos, incluindo esquizofrenia em adultos, e do neurodesenvolvimento, como transtorno do espectro autista. Quarenta por cento das crianças e adolescentes que participaram do estudo apresentavam CNVs nessas regiões. “Nossas descobertas são um forte argumento para a análise cromossômica de microarray (microarranjo de DNA) em qualquer criança ou adolescente diagnosticado com psicose”, diz Catherine Brownstein, pesquisadora da Universidade de Montreal que co-liderou o estudo com Elise Douard na Université de Montréal.
A análise cromossômica de microarray é um teste que permite detectar, simultaneamente, alterações no número de cópias em várias regiões do cromossomo. O rastreio é comum em crianças com suspeita de transtorno do espectro autista, segundo os pesquisadores, e poderia ajudar a diagnosticar melhor os pacientes que apresentem sintomas psicóticos. “Quanto mais tempo a psicose não for tratada, mais difícil será cuidá-la mais tarde”, argumentou, em nota, David Glahn, do Hospital Infantil de Boston, e co-líder do estudo. “Se pudermos tratar a condição mais cedo e adequadamente, a criança provavelmente se sairá melhor ao longo da vida.”