Candidato do PT à Presidência afirmou, no entanto, que negociação deve ser feita pelos partidos. O ex-presidente disse ainda manter conversas com integrantes do PSD.
Simone Tebet, MDB, disse que já decidiu como irá se posicionar no segundo turno
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta terça-feira (4) que já procurou Simone Tebet (MDB) em busca de apoio na campanha do 2º turno das eleições de 2022. O ex-presidente afirmou, no entanto, que a negociação de apoio deve ser feita por meio das instâncias partidárias.
“Nós temos um tempo de respeito à relação que a nossa presidenta [Gleisi Hoffmann] tem com os partidos políticos. Antes de conversar pessoalmente com as pessoas, a gente tem tentado conversar com os partidos políticos para que não haja um rompimento na relação diplomática entre os partidos políticos, porque muitas vezes o partido não quer apoiar, vai liberar. Mas a gente sempre começa conversando com o partido político”, ponderou Lula.
As afirmações foram dadas a jornalistas após um encontro do petista com frades franciscanos no escritório da campanha, em São Paulo.
Lula declarou ainda manter conversas com integrantes do PSD. Segundo ele, senadores do partido devem firmar apoio à candidatura petista nesta quinta-feira (6).
O presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, defendeu em julho que o partido ficasse neutro nas eleições de outubro. O petista, porém, afirmou que pretende contar com o apoio da sigla a nível nacional.
“Apesar do Kassab apoiar o nosso adversário em São Paulo, o PSD a nível nacional vai me apoiar para presidente. E assim vamos costurando”, disse.
Ao lado de Fernando Haddad, candidato ao governo de São Paulo, Lula foi questionado sobre a declaração de apoio do atual governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), derrotado no primeiro turno das eleições, ao presidente Jair Bolsonaro.
Os tucanos decidiram, no final da tarde desta terça, liberar os membros da sigla para qualquer um dos lados na disputa presidencial. Pouco antes do primeiro turno, aliados de Geraldo Alckmin (PSB) na antiga sigla defendiam o voto útil – quando eleitor abre mão de preferência e vota em candidato com mais chances de ser eleito – em Lula.
“Nunca tive relação com o atual governador de São Paulo. Se ele decidiu apoiar Bolsonaro, é uma decisão livre dele, soberana dele. Nós vamos ganhar do Bolsonaro com o apoio dele aqui em São Paulo”, afirmou.
“Estamos tranquilos. O papel do segundo turno é convencer as pessoas que ainda não estavam convencidas”, acrescentou.
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Lula se reúne com religiosos e diz que apoios no segundo turno serão fechados pelo partido — Foto: Reprodução/YouTube
Alianças no segundo turno
O ex-presidente recebeu durante esta terça outras sinalizações de apoio na campanha ao Planalto. O primeiro anúncio, aguardado por petistas e aliados, foi feito pelo PDT, que teve o ex-ministro Ciro Gomes como candidato à Presidência.
Crítico a Lula e ao PT durante a campanha, Ciro disse acompanhar a decisão do partido.
Em seguida, embarcou o Cidadania, partido federado ao PSDB e que esteve ao lado da candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Planalto. No começo da tarde, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga declarou voto a Lula no segundo turno.
Com os apoios, o PT espera reiterar a imagem de que há uma “frente ampla” partidária e social contra o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).
Encontro com frades
O ex-presidente recebeu frades franciscanos para um encontro. Na reunião, o ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, concedeu bênçãos à campanha do petista ao segundo turno.
Atuante na defesa da Lei de Cotas e presidente da ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes), Frei David pediu ao candidato que se comprometa a fortalecer a política pública. Ele reivindicou o oferecimento de bolsa moradia e bolsa alimentação a beneficiários.
Lula assentou com a cabeça e, pouco tempo depois, disse que a educação é uma “questão de honra”.
A lei que assegura reserva de vagas a pessoas pretas, pardas, indígenas e com deficiência nas universidades públicas estabelecia um prazo para revisão em agosto deste ano. Sem clareza, o texto não aborda qual deveria ser a tramitação da atualização.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estudou levar à votação em agosto deste ano um projeto que adiava de 2022 para 2027 a revisão da lei de cotas, mas a proposta não foi adiante.
Religião
Nas últimas semanas, a campanha de Lula tem verificado uma ação coordenada de apoiadores do candidato à reeleição de promoção de notícias e informações falsas sobre a relação de Lula com igrejas e cristãos.
A aproximação com o eleitorado cristão é um dos fatores que a campanha petista avalia como necessária para uma eventual vitória na nova rodada das eleições.
Durante o encontro, Lula voltou a afirmar que não gosta da aproximação entre a política e a religião. Mais uma vez, o ex-presidente disse preferir colocar a religião na parte íntima de sua vida.
“Eu não gosto de fazer nenhum gesto que possa parecer que estou usando a religião para fazer política”, disse. “Não gosto de ficar fazendo carnaval”, acrescentou.
O petista ainda se defendeu de outra polêmica envolvendo religiosos. Ao participar do debate entre presidenciáveis da TV Globo, Lula afirmou ao candidato do PTB ao Planalto, Padre Kelmon, que ele não era um religioso. “[Você] está fantasiado, rapaz”, declarou. O trecho foi utilizado como uma espécie de campanha negativa a Lula por apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.
“Vocês viram que no último debate eu fui obrigado a falar algumas coisas que alguém não queria que eu falasse, mas eu não poderia permitir que aquilo continuasse como se fosse normal. Não poderia permitir. Em nome de Deus, eu tive que dizer algumas coisas que, na verdade, quem deveria ter dito era o organizador do debate ou os partidos políticos”, declarou Lula aos frades.
*sob a supervisão de Letícia Carvalho
G1.GLOBO.