Pingue-pongue à Lusitana
Sem alhos por bugalhos
Por Geraldo Gabliel
GEORGE QUINTINUS
Rua Joaquim Bonifácio, 17
Freguesia de Arroios
LISBOA – PORTUGAL
38° 43′ 39.12” N | 9° 8′ 28.19” W
Paramentado com seus EPI’s – capacete branco – pilotando um touro (carregadeira BobCat), Quintinus, numa live, mostra a Geh Latinus o seu ambiente de trabalho – proteção, e segurança laboral é coisa séria nas empresas em Portugal. Dá um pit stop na faina de rotina, enquanto saboreia um rebuçado¹ sem disfarces – ele é um grande empreendedor, dono do seu próprio negócio: Higienização Sanitária Industrial em grandes empresas multinacionais de Lisboa. Aliás, presta seus serviços também na Suíça e Luxemburgo – outros países da Comunidade Europeia.
Noutro dia, George recordava com melancolia, a aventura e desafios na vivência e trabalho nos anos 80’s no Banco Bamerindus em Rolim de Moura – a então Capital da Madeira (tudo parecia mais um Faroeste Amazônico)… assaltados muitas vezes. Geh Latinus também viveu tal aventura, era colega de trabalho de George. E ambos trabalhavam no Caixa – que perigo! (Alguém foi sequestrado no avião do Banco com malotes de dinheiro).
Entre um pastel de Belém e um bacalhau à Brás
Quintinus, brasileiro de nascimento, mas lusitano por adoção – vive em Portugal (Comunidade CPLP) há mais de 20 anos. Ele, sempre cheio de observações sobre sua vida em Portugal, decidiu nos contar sobre curiosidades e “estranhezas” que encontra por lá. Não falo de piada sobre portugueses que, aliás, lá nas terras lusitanas o protagonista da piada pode ser você, ou eu – brasileiro, que seria, lá nos primórdios de nossa História, aquele que levava “pau brasil” no comércio europeu:
– Gajo, você não imagina o quanto já paguei mico por aqui! — começou ele, sem cerimônia. (Portugueses pagam mico também? à vista, ou em prestações?) …
Eu, curioso, pedi: – conta-me em detalhes!
– Primeiro foi a água. Fui à padaria e pedi “água fresca”. O garçom me trouxe água gelada! Como assim? Eu queria água fresca, sabe? Temperatura ambiente! – reclamou, ainda confuso.
Ri sozinho, imaginando a cena e tentando explicar. Para os portugueses “fresco” é sinônimo de frio, e não de temperatura natural. Também não sei se “fresco” por lá é um gajo cheio de mi-mi-mi – não me toque! Daqueles que, indo ao banco, em dia de muito movimento, impaciente, tem que “pegar a bicha”, com ou sem prioridade se tiver um puto ou uma rapariga na fila.
– Mas essa foi só a primeira! – Quintinus prosseguiu. – Outro dia, no almoço do trabalho, um colega perguntou: “Quintino, queres leite gordo ou magro?” Achei que era alguma piada sobre minha forma física! (estou magro). Só depois entendi que ele queria saber se eu tomava leite integral ou desnatado. – Ele riu, já acostumado com os choques culturais.
A essas alturas, eu estava me divertindo com as aventuras de Quintinus. Tudo isso me fazia lembrar dos falsos cognatos que eu ouvia por lá. Ainda tinha mais?
– Ah, e o bacalhau! Aqui tem bacalhau em tudo, como se fosse arroz com feijão! Bacalhau à Brás, Bacalhau com Natas, Bacalhau Espiritual… Parece até religião! – brincou. Só não vi nisso “cabeça de bacalhau”.
É verdade. Em Portugal, o bacalhau é quase um símbolo nacional, preparado de mil maneiras. Já no Brasil, é um prato especial, reservado para ocasiões festivas – principalmente por ocasião da Quaresma e Páscoa. Gosto do Bacalhau à Gomes de Sá. Aliás, trago na alma uma herança portuguesa sefardita, que sabe a azeite de oliva português. O azeite é tempero obrigatório da vida em Portugal.
– E aquele bendito “vós”! Eu me senti saindo de um livro antigo quando ouvi isso! Ainda bem, que não era “Vossa Mercê”, ou “Vosmecê” – de onde veio “você” (?) – reclamou. Cê sabe, a gente de cá e de acolá, falando a língua de Camões, não gostamos de falar palavrões (ou palavronas) e acabamos por encurtar as palavras…
E foi então que Quintinus começou a divagar sobre a Língua Portuguesa, revelando algumas curiosidades fascinantes:
– Sabia que a maior palavra da língua portuguesa é: (tentando pronunciar sem gaguejar) …
PNEUMOULTRAMICROSCOPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO?
– E sabia que o Português é falado em mais de oito países? Inclusive na China – Macau, que foi colônia portuguesa até 1999? Desde 20 de dezembro de 1999, o nome oficial de Macau é “Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China” (RAEM). Muita gente ainda fala português por lá…
— E por falar em palavras estranhas, sabia que “brasileiro” originalmente era apenas o comerciante de pau-brasil? Já falei isso não é? Curioso mesmo! mas alguns judeus afirmam que a origem do nome do Brasil seja judaica. Embora haja similaridades entre a palavra hebraica “barzel” (ferro) e o nome do nosso país, ainda que a história do Brasil tenha sido marcada pela presença de judeus, especialmente durante o período colonial, não há evidências históricas ou linguísticas sólidas que sustentem essa origem judaica.
Entre um gole de café e outro, ele ainda filosofou sobre as diferenças entre “escutar” e “ouvir”, revelou o erro histórico por trás da palavra “canibal” e até discutiu a lógica invertida entre “piscina” e “aquário”.
— No fim das contas, estou aprendendo a dançar conforme a música. E por falar em música… já ouviu um fado? É emocionante, cara! (não me enfado!).
Ah, o fado! Melancólico, poético; com letras carregadas de saudade. O som inconfundível da guitarra portuguesa embala histórias de amor e despedida. Estilo de música que me lembra também o Flamenco na Espanha – especialmente em Andaluzia (Andaraluz) – expressões musicais rítmicas herdadas dos moçárabes e quiçá? dos cristãos-novos (Sefarditas) dos quais sou descendente. Aliás, Espanha, Portugal e Brasil estiveram sob o mesmo reino e governo (União Ibérica), ocorrida entre 1580 e 1640, quando os reinos de Portugal e Espanha foram unificados sob a coroa espanhola. (Nós brasileiros já fomos espanhois).
Depois de tantas descobertas, perguntei se ele já se sentia um pouco mais português, ou aportuguesado?
— Olha, ainda falo “carro” em vez de “viatura”, ainda me confundo com os caixas eletrônicos e, honestamente, ainda acho estranho casar depois dos 30 como fazem por aqui. Mas já peço um pastel de Belém sem perguntar o recheio, então acho que estou no caminho certo! Ah! Quando me aperto, vou à “casa de banho” me aliviar…
Sorri diante da tela, imaginando meu amigo Quintinus desbravando Portugal, um brasileiro cada vez mais lusitano. Recomendei: – Tenhas cuidado, aí no Algarves, quando fores tomar uma injeção no bumbum! (não posso falar isso em português lusitano aqui, alguém pode me interpretar mal).
Poish, poish! De Lisboa – sem Terramoto… (o de 1755 foi trágico). Livra-nos Deus!
¹Rebuçado – https://pt.wiktionary.org/wiki/rebu%C3%A7ado Acesso em 08 de junho de 2025.
https://canseideserpop.com/especiais/10-fatos-e-curiosidades-desconhecidos-sobre-a-lingua-portuguesa/ Acesso em 08 de junho de 2025.
https://mundoescrito.com.br/curiosidades-sobre-a-lingua-portuguesa/ Acesso em 08 de janeiro de 2025.