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Quando o bairro pobre decidiu fazer um vereador

Quando o bairro pobre decidiu fazer um vereador

Se não tivesse um dia se mudado para o fundão do Jardim Alvorada, próximo onde a cidade se limitava com a zona rural, provavelmente o professor José Tadeu Bento França jamais tivesse ingressado na política. Mas, como estava lá, vivendo as dificuldades do subúrbio e lutando para reduzi-las, acabou eleito vereador, depois deputado estadual e deputado federal constituinte.

“O Alvorada antigo é aquela parte próxima à Praça Farroupilha e a Avenida Alexandre Rasgulaeff. Quando eu cheguei, em 1974, aquela parte próxima ao Colégio Unidade Polo era nova e ainda faltava de tudo. Não tinha asfalto, saúde pública, a energia elétrica não chegava a todas as casas e não tinha água encanada. As pessoas buscavam água em baldes em um lugar que ficou conhecido como ‘torneira pública’, próximo onde é a Igreja São Francisco”, lembra o professor, que em abril completa 70 anos.

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chegavam de Umuarama e foram para o fim do Alvorada porque passaram em um concurso para lecionar na Unidade Polo, que estava para ser inaugurada. Ele tinha sido aprovado também em um concurso da Universidade Estadual de Maringá (UEM). “Aquela região da cidade era muito pobre, mas a situação piorou em 1975, quando aquela geada histórica acabou com a cafeicultura paranaense e milhares de famílias tiveram que deixar a zona rural e foram morar nas periferias das cidades. Em Maringá, sinônimo de periferia era o Jardim Alvorada, que se expandia rapidamente”.

Por serem cultos e terem um padrão de vida um pouco melhor do que parte da vizinhança, os professores Tadeu e Clarice logo passaram a ter certa liderança no bairro. “Estávamos em contato com pais de alunos, ajudamos o padre a criar cursos profissionalizantes para que aquelas pessoas tivessem opções de trabalho e como o único telefone do bairro era lá em casa, todo mundo ia lá, conversávamos e, automaticamente, nos tornamos respeitados e queridos”.

Foi a associação de moradores, que Tadeu ajudou a criar, que chegou à conclusão de que para melhorar o bairro era necessário ter representatividade na Câmara. Os moradores não tiveram dúvidas de que o professor era o melhor preparado e decidiram lançá-lo candidato a vereador.

Tadeu-Fran-Ca-1 foto Luiz
Unidos contra a pobreza

“Hoje o Jardim Alvorada é um dos melhores bairros de Maringá”, diz o professor Tadeu França. Segundo ele, hoje o bairro tem boa infraestrutura, boas escolas, saúde pública, está totalmente asfaltado e os moradores podem chegar ao centro de Maringá em poucos minutos. “Me sinto feliz em ter feito parte desta melhoria”.

Ele conta que quando assumiu na Câmara encontrou muito apoio para ajudar os moradores do Alvorada, principalmente do prefeito João Paulino. “Ele era da Arena e eu do MDB, dois partidos antagônicos, mas tudo o que eu pedia para o Alvorada ele atendia. Esquecemos as diferenças partidárias e nos unimos pelo mesmo objetivo”.

O ex-vereador do bairro conta um dos momentos decisivos para o Jardim Alvorada foi quando a prefeitura decidiu implantar o Projeto CURA III (Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada,) um programa do governo federal por meio do Banco Nacional da Habitação (BNH) que tinha o intuito era prover áreas ociosas de infraestruturas e equipamentos urbanos para proporcionar sua valorização e ocupação.

Aliciada se mata no puteiro

Diferente de tantos que vieram de longe atraídos pela riqueza da terra roxa do norte do Paraná, Tadeu não veio de fora, ao contrário, ele nasceu e cresceu com as cidades da região. Seu pai, o desbravador Militão Bento França, foi um dos primeiros corretores da Companhia Melhoramentos e recebeu como pagamento uma área de terra na região do Rio Bandeirantes do Norte. Na década de 1940, loteou e vendeu as terras, nascendo ali a cidade de Santa Fé. E foi em Santa Fé, na época pertencente a Apucarana, que nasceu Tadeu em 1946.

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Além de ficar conhecido como professor e como o político que foi vereador, deputado estadual, deputado federal e secretário de Estado, Tadeu nunca abandonou o prazer que cultivou desde a infância: o de escrever, criando histórias sobre a dura realidade que observa. Foi assim que nasceram livros como “Luzes negras do submundo”, que narra a morte voluntária de uma moça aliciada em um orfanato e explorada em um puteiro bem movimentado de Londrina, comandado por um japonês, “Feitores da aldeia grande”, “Vem caminhar comigo, pajé”, entre outros.

Por Luiz de Carvalho

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