Um dos maiores escândalos de corrupção envolvendo o governo brasileiro nasceu em um posto de gasolina. E prosseguiu com um presente caro que deixou os investigadores intrigados, de acordo com publicação da BBC Mundo.
O Posto da Torre, que ocupa um grande espaço comercial no centro de Brasília tem, além de 16 bombas de combustível, um minimercado, um café e uma lavanderia.
Há dois anos quando a Polícia Federal chegou ao local, havia também uma casa de câmbio onde se suspeitava ocorrer lavagem de dinheiro. Nascia a operação policial, batizada de Lava Jato, ainda que no local não havia serviço de limpeza de carros.
Com mais de 90 condenações realizadas até agora e cerca de R$ 2,7 bilhões recuperados pelos investigadores, é considerado o maior escândalo do gênero na história do país, segundo a BBC Mundo.
A avalanche de informações e provas documentais pode levar a presidente Dilma Rousseff, a encerrar seu mandado com um processo de impeachment no Congresso e outro no Tribunal Superior Eleitoral.
Quando os agentes chegaram àquele posto de gasolina em 17 de março de 2014, ninguém poderia imaginar a dimensão que a Lava Jato tomaria.
“Ninguém imaginava que a Lava Jato ia se tornar o que é hoje”, disse um policial federal que, desde o início, está próximo das investigações feitas a partir de Curitiba, no Paraná. “Era algo pequeno que só fez crescer desde então.”
O posto em Brasília entrou na mira dos investigadores depois que começaram a ser monitoradas as comunicações telefônicas de seu dono, Carlos Chater, em julho de 2013.
Havia suspeita de que Chater atuava como doleiro, nome dado no mundo do crime a operadores ilegais do mercado de câmbio que criam uma espécie de sistema bancário oculto usado por indivíduos e organizações para ocultar e lavar dinheiro sujo.
Os investigadores, depois de monitorá-lo por alguns meses, chegaram à conclusão que, na realidade, não estavam diante de uma, mas quatro organizações criminosas que interagiam entre si, tendo doleiros no seu comando.
Uma das operações era conduzida por Chater, que mais tarde seria condenado à prisão pelo juiz à frente da causa, Sérgio Moro, por lavagem de dinheiro.
A outra tinha como chefe Alberto Youssef, que, segundo os fiscais, era um “antigo conhecido da Procuradoria da República e da Polícia Federal”
De fato, Youssef já havia sido preso em 2003 por lavagem de dinheiro e outros crimes contra o sistema financeiro em um caso anterior de evasão de fundos do banco Banestado.
Por causa do vinculo entre Youssef e Chater, os agentes voltaram a monitorá-lo e encontraram um e-mail que fazia referencia a um presente luxuoso-uma caminhonete Range Rover Evoque.
O presenteado de Youssef era Paulo Roberto Costa, que, entre 2004 e 2012, foi diretor de abastecimento da Petrobras, um cargo crucial no gerenciamento de contratos. Neste momento, os investigadores descobriram o vínculo da petroleira estatal com a rede ilegal de lavagem de dinheiro e subornos.
De acordo com a publicação da BBC Mundo, na primeira fase da Lava Jato, que teve inicio no posto de gasolina em Brasília foram cumpridos 81 mandados de busca e 28 de prisão preventiva em várias cidades do país. E foram apreendidos carros esportivos, joias, obras de arte e relógios de luxo.
O propósito era desarticular uma rede que lavava dinheiro do narcotráfico, do comércio ilegal de diamantes e de desvio de dinheiro público.
Em 20 de março de 2014, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, foi preso depois que seus familiares foram registrados por câmeras de segurança entrando e saindo em um edifício com bolsas e mochilas, exatamente no local onde funcionava a empresa de Costa. Segundo os policiais, eles estavam destruindo provas.
A colaboração internacional também foi de imensa importância, quando os promotores suíços informaram a seus pares brasileiros que havia nos bancos do país mais de US$ 23 milhões (R$ 82,6 milhões em valores atuais) em contas pertencentes à Costa.
Os investigadores perceberam indícios de um esquema oculto de desvio e lavagem de dinheiro proveniente da Petrobras, mas faltava descobrir exatamente como ele funcionava e até onde chegava. Em agosto de 2014, Costa para ter sua pena reduzida, fez acordo de delação premiada. Em contrapartida, deveria devolver dinheiro, relatar os crimes e indicar os outros implicados. Em seguida, o doleiro Youssef fez o mesmo.
Diante destes testemunhos, os promotores denunciaram que as principais construtoras do país, entre elas gigantes como Odebrecht e Camargo Corrêa, haviam formado um cartel para repartir entre si contratos multimilionários com a Petrobras, segundo a matéria da BBC Mundo.
Para “conseguir” os contratos pagavam subornos a diretores da empresa e a meia centena de políticos de diferentes partidos, inclusive o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados.
A porcentagem desviada ficava entre 1% e 3% do valor dos contratos, que ia para empresas como “pagamentos por consultorias”, para posteriormente passarem por Youssef e outros doleiros antes de chegar a seus destinatários.
Segundo os promotores o total de 49 acordos de colaboração permitiram recuperar quase metade dos US$ 1,77 bilhão pagos em subornos.
Até agora 179 pessoas foram acusadas criminalmente. As condenações já emitidas em primeira instância somam quase mil anos de prisão. Entre estas pessoas estão o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, antigos diretores da Petrobras e o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, condenado a 19 anos e 4 meses de prisão.
Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa foram condenados há 20 anos e alguns meses de prisão cada um, mas, como foram delatores no caso, poderão receber benefícios de Moro.
O ex-presidente Lula, nega e critica o juiz Sergio Moro e os investigadores por isto, mas Lula está sendo investigado por suspeitas de ter recebido benefícios das construtoras.
Os ministros irão decidir se as investigações serão integralmente mantidas no STF ou desmembradas para que continuem sob a jurisdição de Moro os procedimentos contra pessoas sem foro privilegiado, como Lula, já que sua nomeação está suspensa. A expectativa é de que na próxima semana o Supremo julgue se ele poderá ou não assumir a Casa Civil.
O ministro Teori Zavascki criticou o fato de Moro ter divulgado conversas telefônicas de Lula gravadas por meio de escutas, inclusive uma com a presidente Dilma Rousseff que aumentou as suspeitas de que ela o nomeou ministro para dar a Lula foro privilegiado e evitar sua eventual prisão. A nomeação de Lula foi suspensa pelo ministro Gilmar Mendes.
Enquanto as investigações prosseguem, o posto de gasolina onde tudo começou continua a atender a centenas de veículos por dia na capital do país, porém sem abrigar uma casa de câmbio em suas dependências.
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